Pardais: desaparecendo para sempre



Na minha cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, até alguns anos atrás pardais habitavam alegremente o meu jardim e faziam uma algazarra que hoje deixa saudades. Não há mais a visita de pássaros nas flores e os galhos não balançam mais com eles brincando. Não há mais canto e nem encanto, eles simplesmente desapareceram assim como as rolinhas que sempre os acompanhavam. Ao ler este texto de César-Javier Palacios ficou claro que o problema é muito maior do que se poderia imaginar. Os pardais já não podem viver em nossas cidades, e não há nada mais triste do que constatar que se continuarmos assim talvez nem mesmo nós possamos em um futuro breve...

 

Os pardais já não podem

viver em nossas cidades

 

Traduzido por Kátia Boroni

Os biólogos as conhecem pelo nome de "bioindicadores". Aqueles cuja presença ou ausência nos mostram as condições, boas ou más, de uma área natural específica ou biótipo. Se o local se degrada, algumas sofrem declínio, as especialistas, e aparecem outras, as oportunistas. E não pensemos apenas em linces ibéricos ou patos Malvasia. O pardal (Passer domesticus), sem ir mais longe, é um excelente bio-indicador da saúde das nossas cidades.

A coexistência com esta ave popular é tão estreita que, quando uma cidade é abandonada, juntamente com os vizinhos e animais de estimação os pardais também desaparecem.

Mas ultimamente eles desaparecem sem que saibamos claramente o motivo. Porque, como todos já sabem, o pardal está se extinguindo. Incapaz de encontrar novos lugares para prosperar, as suas populações estão caindo vertiginosamente em todo o mundo. Segundo dados SEO / BidLife, estima-se que a população europeia desta espécie caiu 63% nos últimos 30 anos. Vários milhões a menos de pardaizinhos, dizendo claramente. E o que é ruim para o pardal, é definitivamente ruim para nós.

Se eles, que nos acompanham desde que há milênios saímos das cavernas e começamos a levantar acampamentos permanentes, aldeias, vilas e cidades grandes, já não podem viver ao nosso lado, então o que acontece conosco, igualmente bio-indicadores da insalubridade dos novos espaços urbanos?

Os pardais são um pouco como aqueles canários que os mineiros levavam à profundidade da mina em uma gaiola. Se eles morriam de repente era um sinal de vazamento de gás venenoso e eles tinham que sair correndo para não acabarem como os passarinhos.

O fato é que os pardais estão morrendo e nós ainda continuámos presos à cidade que mata (a eles e a nós), indiferentes à sua gaiola vazia. Em Londres, Berlim ou Amsterdã é agora mais fácil ver uma raposa do que um pardal.

De acordo com a SEO / BirdLife em Espanha, havia cerca de 165 milhões de pardais em 2006. Em apenas dez anos, a população reprodutora do nosso país foi reduzida em cerca de oito milhões de exemplares. A queda é mais acentuada no planalto norte e Aragão do que na metade sul do país.
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 Na Europa, o declínio tem continuado desde 1980 e foi particularmente acentuado entre 1970 e 1980. Apenas no Reino Unido 10 milhões de exemplares foram perdidos nesses dez anos. Isso afetou tanto as populações rurais quanto as urbanas.

Para aumentar a conscientização da conservação e chamar a atenção para a (má) qualidade ambiental das nossas cidades, a SEO / BirdLife nomeou como Ave do Ano 2016 o pardal. E fato é que qualquer melhoria que façamos nas cidades para incentivar o regresso destas aves também irá nos beneficiar. Como salienta com razão o lema de conservação da ONG, se é bom para o pardal, é bom para todos.

Essa é também a mensagem que pretende capturar o vídeo que acompanha esta edição de "Bird of the Year", estrelado e escrito pelo humorista gráfico Forges e seu filho e excelente jornalista Toño Fraguas. Nele, ambos falam "de pardal para pardal". Você não viu ainda? Bem, não perca que pelo menos o sorriso é garantido. Legendado em português por diariodefalcoaria.


Por que desaparece o pardal?

O pardal é um pássaro sedentário, de modo que as causas do seu declínio são muitas e estão muito unidas à qualidade do seu entorno imediato.

Nas áreas rurais:
• Intensificação da terra,
• Uso abusivo dos pesticidas.
• despovoamento rural.

Nas cidades:
• Eletromagnetismo gerado pela multiplicidade de antenas de telefonia móvel em torno de nós.
•          poluição do ar.
• Aumento dos predadores.
• A concorrência de espécies invasoras.
• Dificuldade em encontrar alimentos, especialmente em época de reprodução, quando os filhotes precisam de larvas e insetos.
• A falta de áreas verdes e locais de nidificação: os pardais frequentemente se instalam em espaços de edificações humanas ou galhos velhos de árvores e, atualmente os novos edifícios são cada vez menos amigáveis e todos os velhos galhos de árvores dos parques são removidos para evitar danos.

Biodiversidade urbana

O pardal é uma das espécies mais abundantes e difundidas no meio humanizado. Portanto, o seu declínio deve estar refletindo mudanças ambientais que também afetam outras espécies silvestres, para melhor ou pior, e especialmente para as outras espécies mais comuns em ambientes urbanos: nós.


O desaparecimento desta ave é paralela à perda da biodiversidade em vilas e cidades. Portanto, a sua escolha como Bird of the Year (ave do ano) também reforça o trabalho que SEO / BirdLife realiza há dez anos para defender e promover a biodiversidade urbana. Isto é explicado através de um comunicado de imprensa do diretor-executivo da organização ambiental, Assunção Ruiz:

"Não é uma questão anedótica: menos biodiversidade urbana significa mais poluição, mais emissões de CO2, menos áreas verdes e,  portanto, ambientes menos saudáveis. Não se esqueça: a presença de pardais é um indicador da qualidade da vida de um ambiente. Temos que cuidar deles defendendo à biodiversidade dos nossos municípios. SEO / BirdLife está empenhada em conseguir isso. "

Ele acrescenta:

"Aqueles que vivem e moram nas cidades, devemos apostar por incorporar, administrar e proteger áreas para a biodiversidade. E como saber é preservar, deste modo contribuiremos para que o meio ambiente também seja também uma prioridade para os nossos governos ".

Por sua parte, o presidente do Comité Científico SEO / BirdLife e pesquisador do Museu Nacional de Ciências Naturais, Mario Diaz, diz:

"Nós dependemos fortemente da salubridade dos povoados e cidades para o nosso próprio bem-estar. Portanto, o declínio de uma espécie completamente selvagem, que se adaptou para viver em ambientes urbanos, pode indicar disfunções crônicas do sistema que, eventualmente, pode nos prejudicar. As áreas urbanas estão aumentando de forma exponencial no mundo e representam desafios extremos para os seres vivos. A forma como estes organismos estão  respondendo a estes desafios podem ajudar-nos a melhorar a nossa própria capacidade de sobrevivência e bem-estar. "

Ameaças para o pardal comum

Apesar de ainda não se saber exatamente os fatores que estão afetando à espécie, sabemos que as populações de pardais estão em declínio de forma mais acentuada nas áreas urbanas do que nas áreas rurais. Na verdade, vários estudos científicos descobriram que o estado físico das populações das grandes cidades é muito pior do que aqueles encontrados na periferia destas mesmas cidades ou aqueles localizados em áreas rurais.


Nas cidades, SEO / BirdLife identifica alguns problemas sérios, como a falta de áreas verdes e lugares convenientes para fazerem ninhos, porque os novos edifícios são cada vez menos amigáveis para as aves.

Além disso, a crescente dificuldade em encontrar alimentos nas cidades modernas, o eletromagnetismo, a predação e a competição com espécies invasoras poderiam ser alguns dos problemas enfrentados pelos nossos pardais.

Em áreas rurais, além dos problemas citados acima, existem outros fatores específicos, tais como a intensificação da agricultura, o uso abusivo de pesticidas e uma maior eficiência na colheita, deixando assim poucas sementes no solo. Paradoxalmente, além da intensificação, o despovoamento rural também afeta negativamente os pardais.


Dicas para favorecer o pardal comum

Instale comedouros. A alimentação suplementar pode ser útil para as aves, especialmente no inverno. Existem muitos tipos de comedouros que podem fornecer sementes, nozes, frutas frescas... Se você animar você mesmo pode fabricá-los!



Instale caixas-ninho. Se você tem um jardim ou terraço adequados, longe de predadores e abrigado da chuva e do frio, você pode instalar caixas-ninho para encorajar que os pardais e outras aves reproduzam ali.


É importante para não causar transtornos desnecessários, nem interferir negativamente na reprodução de pardais. Então, se possível, não faça obras na sua casa durante a sua época de reprodução.

Adapte a sua casa para as necessidades dos nossos vizinhos. Se você deixar lacunas onde os pardais podem se reproduzir sem afetar as tubulações de água ou câmaras de ar, você favorecendo assim a sua reprodução.

Melhore o seu jardim. Há muitos passos que você pode implementar: aposte em uma jardinagem ecológica, evite pesticidas, use vegetação nativa, limite a superfície de pavimento  artificial ... Você também pode colocar um bebedouro ou uma lagoa permanente. Você vai receber visitas frequentes.


Evite riscos para o pardal e outros animais da fauna urbana. O jardim esconde alguns perigos para a vida selvagem nos quais é importante agir. Por exemplo, as grandes janelas e blindex representam um risco para as aves, que podem colidir contra elas. Você pode evitar a isso instalando adesivos de vinil adequados.Outro truque simples é colocar um sino para o seu gato doméstico, assim você reduz o sucesso de sua caça de aves selvagens. As podas de sebes e arbustos também podem causar falha reprodutiva de algumas aves. Portanto, evite estas tarefas entre abril e agosto.


E, finalmente, consciência: informe amigos e vizinhos dos benefícios que trazem os pardais e sobre o declínio sofrido pelas suas populações.




Referências:


SEO Birdlife Espanha, ave do ano 2016:  http://www.seo.org/gorrion2016/




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